domingo, 25 de outubro de 2009

Trio Surdina: Desvendando o Mistério



 Jorge Mello  (12 de abril de 2009)  

Entenda a importância do legendário trio instrumental formado por Chiquinho (Acordeon), Garoto (violão) e Fafá Lemos (violino) para a moderna música popular brasileira dos anos 50 em diante.


Introdução: o programa “Música em Surdina”
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No início dos anos 50 a Rádio Nacional investia na criação de novos programas, com o intuito de se manter acima das concorrentes. Grande era a expectativa em torno da divulgação dos novos horários da emissora, com a estréia de vários programas tais como (1): Edifício Balança mas não cai, Dedos Mágicos, Solistas da Rádio Nacional, Dedos Mágicos e Música em Surdina.
Após atuar com grande êxito na Rádio Record, S. Paulo, entre 1949 e 1950, Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, retornou ao Rio de Janeiro, apresentando-se nas boates Excelsior e Flair, nesta com o violinista Fafá Lemos.
De 15 de janeiro até 30 de março de 1951 fez temporada na boate do Hotel Glória, em Caxambu, Minas Gerais. Ao retornar ao Rio, Garoto iniciou negociações com a Rádio Nacional, ocorrendo sua reestréia naquela emissora em 03 de abril de 1951 no programa Musical Super Flit, com orquestra e direção musical a cargo de Radamés Gnattali, onde solou a composição Meu Cavaquinho, de sua autoria. Alguns jornais noticiaram sua volta à Nacional, informando que ele já estava atuando com sucesso em várias audições na PRE-8 (2), (3).
Ao escolher ” Música em Surdina” como título do programa que iria dirigir e apresentar, Paulo Tapajós imaginou os instrumentos tocados como se estivessem em surdina. Em termos técnicos (4), a surdina é um dispositivo mecânico usado para abafar o som dos instrumentos. Deste modo a expressão em surdina sugere algo tocado com volume reduzido, criando assim um ambiente mais intimista. Os músicos convidados deveriam então se adequar a este conceito.
Ao ser convidado para se apresentar neste programa Garoto chamou o violinista Fafá Lemos (Rafael Lemos Jr.), com quem vinha se apresentando, e o acordeonista Chiquinho (Romeu Seibel) para se apresentarem em trio. A estréia desse trio em “Música em Surdina” se deu em 20 de abril de 1951 e eles por lá se apresentaram até o final daquele mês.
No dia 4 de junho Garoto reapareceu sozinho naquele programa solando ao violão as músicas GraciosoInspiração, ambas de sua autoria, e na semana seguinte apresentou em solo de violão outras duas composições suas: Duas Contas e Gente Humilde. Continuou se apresentando naquele programa até o final de julho sem fazer menção alguma a Fafá Lemos e Chiquinho do Acordeom.
O trio reapareceu somente nos dias 6 e 20 de agosto, última apresentação do programa! Apesar de sua efêmera existência, o programa “Música em Surdina” projetou o talento artístico daquele trio com formação inusitada (Violino, acordeom e violão) para o cenário musical brasileiro.
Ainda na Nacional eles se apresentaram três vezes no programa Carrossel Musical: em 31 de julho, 21 de agosto e 25 de setembro. No Show Lentheric eles fizeram duas apresentações na 1ª quinzena de outubro. Entretanto, naquele ano de 1951, ainda não se falava no Trio Surdina.
Companheiro de Garoto desde a década de quarenta na Rádio Nacional, onde foi crooner da Orquestra All Stars e também da RádioTupy, Nilo Sérgio, de quem falaremos mais adiante, se tornou parceiro e intérprete do belo samba-canção Você é Tormento (5), gravado na Todamérica em 19 de junho de 1951. Acompanhando a voz de Nilo está o Conjunto Melódico sem informação alguma sobre seus integrantes. Entretanto ao ouvir esta gravação, pude identificar o piano de Radamés Gnattali, o violão elétrico de Garoto, o acordeom do Chiquinho, o violino do Fafá e o contrabaixo do Vidal. É o futuro Trio Surdina reforçado… E que reforço!

O “violinista” Garoto

É muito interessante a ligação de Garoto com o violino, instrumento que aprendeu a tocar antes mesmo do banjo. Embora tocasse bem o violino, raras foram as ocasiões em que se apresentou com ele em público.
Compôs para este instrumento a música (inédita) Meu Violino, dedicada a Romeu Ghipsman e Cigano no Baião, esta gravada por Fafá Lemos (com o autor a acompanhá-lo ao violão), em 30 de maio de 1951, pela RCA Victor. O título dessa música, assim como a própria melodia, faz uma alusão a dupla Stephane Grappeli (violino) e Django Reinhardt (violão), de quem Garoto era grande admirador.  O músico e pesquisador Henrique Cazes (6) aponta a influência do cigano Django nos fraseados usados por Garoto na guitarra e no violão. Como muito bem observou o pesquisador Thiago Mello (7), o conjunto “Cordas Quentes” (8) liderado por Garoto e que atuava na Rádio Mayrink Veiga em 1938/39 pode ser considerado um embrião do Trio Surdina, pois aquele era formado por ele(violão-tenor), Laurindo Almeida (violão), Faria (contrabaixo) e Mesquita (violino).
Cópia do Texto de Jorge Mello (2009) extraído do site uol 
Sovaco de Cobra

2 comentários:

  1. O site sovaco de cobra é muito informativo e vale ser lido na íntegra!

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  2. Olá. Gostaria de entrar em contato com quem criou este blog pois muito me interessa saber mais a respeito desse grande músico que foi o Fafá Lemos. Inclusive, estou fazendo um trabalho para a Uni-Rio cujo o tema principal será o próprio. Muito obrigada desde já, MC.

    mclaravalle@gmail.com

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